Na avenida da minha vida, componho e compartilho a ferro e flores de todas as emoções, inquietações e explosões de uma jornada profunda, intensa e fascinante.
Seja Bem vindo!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Roberto Luna

Roberto Luna (Valdemar Farias), cantor, nasceu em Serraria, Paraíba, em 1/12/1929. Fez os primeiros estudos em Campina Grande e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1945. Começou a trabalhar em teatro de revista e estudou com o ator Ziembinsky.

Apresentado por Assis Valente a Chianca de Garcia, para ser contratado como cantor, acabou tornando-se seu auxiliar no setor de divulgação da companhia teatral. Caixa de companhia imobiliária e auxiliar de escritório, por volta de 1948 apresentava-se também como crooner em dancings e boates do Rio de Janeiro. Foi o locutor Afrânio Rodrigues quem lhe deu o nome artístico de Roberto Luna, por ocasião de um show. Em 1951 estreou no rádio, levado por Assunção Galego, que dirigia o programa Transatlântico Guanabara, na Rádio Guanabara, atuando logo depois na Globo, na Mayrink Veiga e depois na Nacional. No ano seguinte gravou seu primeiro disco, com Por quanto tempo (Marino Pinto e Domal Bibi) e Linda (Erasmo Silva e Rui Rei), na Star.
Contratado por Sérgio Vasconcelos, da Rádio Clube, em 1953, participou dos programas Caderno de Melodias, Ciranda dos Bairros e das Audições Roberto Luna, lançando para o Carnaval desse ano, entre Outros, o samba Jurema (Luís Soberano e Washington Fernandes) e a marcha Deixa- me em paz (Guido Medina e Geneci Azevedo), na Copacabana. Para o mesmo Carnaval, gravou, ainda acompanhado pelo conjunto Os Copacabana, Minha casa é meu chapéu (Geraldo Queirós e Henrique Leoni) e o samba Pode voltar (Geraldo Queirós e Wilson Lopes).
Cantor de sucesso nacional na década de 1950 destacou-se interpretando versões de boleros e músicas de dor-de-cotovelo; seus maiores sucessos dessa época foram Molambo (Meira e Augusto Mesquita), o bolero Relógio (Cantoral, versão de Nely Pinto), Nunca (Lupicínio Rodrigues), Vingança (Lupicínio Rodrigues), Castigo (Dolores Duran), Por causa de você (Tom Jobim e Dolores Duran), o bolero História de um amor (versão de Edson Borges), e o tango El día que me quieras (Carlos Gardel e Alfredo Le Pera).
Em 1961 gravou pela RGE o LP Adiós, pampa mia e outros tangos famosos, com Adiós, pampa mia (Francisco Canaro e Mariano Mores, versão de Haroldo Barbosa) e Confissão (Enrique Discepolo e Amadori, versão de Lourival Faissal).
Dois anos depois saiu pela mesma fábrica o disco Tangos famosos, incluindo O dia que me queiras (versão de Haroldo Barbosa) e Cristal (Mores, versão de Haroldo Barbosa). Em 1964 novo LP, Os grandes sucessos de Roberto Luna, e no ano seguinte O Luna que eu gosto, etiqueta Philips, com Tudo é magnífico (Haroldo Barbosa e Luís Reis) e Senhor saudade (com Dinho). Participou ainda como ator e cantor do filme O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, em 1968.
A partir de 1970 apresentou-se quase exclusivamente em boates, tendo sido proprietário de uma. Em 1972 gravou na Chantecler o LP Roberto Luna, destacando-se Gaivota e Negro véu (Zé Bastos e João Reis). Na década de 1990, a RGE relançou em CD todo o seu repertório, em 10 volumes.

No dia 23/09/2009 estive frente a frente com essa figura maravilhosa... Já admirava seu trabalho, mas conhecê-lo pessoalmente foi único na minha vida, suas histórias, suas fantasias, seu olhar... foi apaixonante  escutá-lo. O que mais me marcou a noite foi a Frase: "Tenho 80 anos mas ainda me sinto totalmente jovem e totalmente capaz de todas as coisas que um jovem pode fazer".
Há alguns anos atrás o encontrei em um Show no Bar Brahma, estava cantando todas as sextas feiras se não me engano, quando entrei no salão ele cantava A volta do Boêmio e foi marcante vê-lo com aquela voz sensacional e um copo de Whisky numa mão e um cigarro de palha na outra.
Confesso que foi mais do que emocionante conhecê-lo e tido o prazer de conversar com ele uma noite inteira.
http://www.youtube.com/watch?v=MBMp5eXnIfA&feature=related

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti - Escritora e Jornalista

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Detalhes do Cotidiano

O dia a dia da gente é tão corrido, tão conturbado que quase não reparamos em detalhes maravilhosos... Pensei sobre isso, agora, quase no fim do dia...

Quando saio para trabalhar pela manhã e atravesso a avenida da minha vida, chego ao estacionamento onde deixo meu carro, lá está ele.. sorridente, disposto, faceiro como diz meu Pai... não sei o nome dele, mas sei que o apelido é Sr. Madruga, é verdade, ele sé idêntico aquele do episódio Chaves...Um senhor lindo e cheio de vida que me entrega o carro toda manhã com uma estampa no rosto que só vendo pra acreditar...

Na hora do almoço, fui ao mesmo restaurante de sempre, não só porque o dinheiro dá pra comer naquele lugar, mas o dono do estabelecimento chama as pessoas pelo nome, hoje estava tão distraida que passei pela balança como se nada fôra, ele deixou por isso, veio a minha mesa com um sorriso largo e me perguntou se estava apaixonada, rss, como se algum dia eu tenha deixado de estar, e respondi dessa mesma forma... ele sorriu longamente e completou: - mas hoje deve estar muito mais pois esqueceu de pesar o seu prato!... bem... a vermelhidão me subiu o corpo, quem me conhece sabe como isso ocorre, mantive o bom humor e tentei pagar o maior valor possivel, mas ele disse que era por conta da da paixão avassaladora que eu devia estar sentindo.

Transito bom ao voltar pra casa, incrivel pois hoje choveu o tempo todo em São Paulo, e quem vive nessa selva de pedras sabe bem como é quando cai uma gota, mas foi otimo, cheguei cedo, deixei o carro e passei pela banca de jornal do corinthiano que fez questão de tirar a blusa de cima e mostrar que por baixo estava o seu time de coração... eu como boa São Paulina que sou tirei o sarro, rimos por aguns minutos, comprei cigarros e subi pra casa.

Agora estou aqui, escrevendo no blog sobre esse cotidiano fascinante, tomando uma cerveja, olhando pela janela da vida e pensando... Será que aquelas pessoas todas lá embaixo reparam nesses detalhes tão simplistas mas tão significantes?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Espumas ao Vento

Saudade! ai que saudade... tem dias que nem sei por onde começar ou o que terminar por causa dessa saudade filha da puta... Mas é isso ai, vida que segue... Vou compartilhar com vocês uma letra que eu adoro.

Sei que aí dentro ainda mora
Um pedacinho de mim
Um grande amor não se acaba assim
Feito espumas ao vento
Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa, feito brincadeira
O amor deixa marcas
Que não dá pra apagar
Sei que errei to aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo
E sem saber direito a hora e o que fazer
Eu não encontro uma palavra só pra te dizer
Ah! Se eu fosse você eu voltava pra mim de novo
De uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar
Sei que errei tô aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo
E sem saber direito a hora e o que fazer
Eu não encontro uma palavra só pra te dizer
Ah! Se eu fosse você eu voltava pra mim de novo
http://www.youtube.com/watch?v=JhFW2plKoEE&feature=related

Ah! Eu com certeza voltava pra mim de novo...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Convite

Não me importa saber como você ganha a vida.
Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade.
Quero saber se você correria o risco de parecer tola por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar viva.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua.
O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida a enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor.
Quer saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira.
Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesma.
Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digna de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte da sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: " Sim! "
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem.
Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausta e ferida até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui.
Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo, sem recuar.
Não me interessa onde, o que ou com quem estudou.
Quero saber o que a sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesma e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia.
(Oriah Mountain Dreamer, em O CONVITE).

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Embriagada

Tentarei usar essa folha branca enquanto me embriago. Ao som de uma canção que nunca ouvi, porém já gosto. E se eu conseguisse não estar aqui agora. Eu gostaria mesmo de estar aqui.
Se há momentos da vida de alguém em que o mais importante é estar fazendo o que realmente se está fazendo, acabo de ser assim, agora.
Não trocaria esse minuto por um abraço, por um sorriso familiar ou por uma bela angustia olhando uma arte qualquer. Estou exatamente onde gostaria de estar.
Meu cérebro está assim: procura entre o passado e o futuro definições boas para um belo texto, procura uma canção inspiradora, procura o sabor de um beijo.
Não há nada melhor que esta busca. Em se perder em longos goles de álcool, em longas baforadas de cigarro. Eu, que já me perdi em coisas mais perigosas, troco esses segundos por alguma vez que te vi e fui feliz. Quantas vezes!
Daquela vez que lhe vi em outro lugar, apenas você. Mesmo longe, sempre te vejo como se fosse minha obrigação estar ao seu lado, lhe dar toda minha companhia, todos os meus sorrisos e até meu silencio, mesmo sozinha. Assim sou. Suas mãos, seus braços, seu olhar perdido. Você sabe e entende. Fico perdida em suas frases inteligentes.
E depois dos poemas e crônicas que li e ouvi na noite de ontem, mais uma vez volto ao mesmo ponto. Ao mesmo segundo que lhe vi em todas as primeiras vezes. Assim me sinto, a sua primeira vez sem nunca ter sido. Sou parte tua, sou a encruzilhada, a foice, um suspiro.
Espero não ser a última, me deixa ser seu meio, me deixa ser os segundos das suas decisões. Não quero ser o seu sim, não quero ser seu não, quero ser tua dúvida, do início ao fim. Assim te acompanharei, mesmo que não me perceba, estou aqui, onde quero estar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

São Paulo: dois amores

Faço questão de publicar essa carta que recebi um dia de alguém inesquecível... Quanto amor, quanto loucura, quantos gestos completos. Essa pessoa também escreveu um dia para mim que certas dores e eventuais separações são necessárias para que nos encontremos de novo com mais intensidade... Quis tanto acreditar nisso!

Ai Vai...

"A cidade e a mulher que habita a avenida, que partiu meu coração...A cidade, uma paixão "fria", distante, concreta (construções de concreto)... A mulher, um amor louco, maravilhoso, hoje distante (fisicamente), mas real, adulto, sincero.
São Paulo, dois amores...
A cidade, altiva e majestosa, indiferente.
A mulher, linda e inteligente, maravilhosa.
São Paulo, dois amores!
A cidade, louca e próspera, convidativa...
A mulher, sensual e fantástica, "mergulhativa"...

São Paulo... dois amores...
A cidade, um sonho distante... mas real
A mulher, um sonho constante... e real

São Paulo... antes e depois... duas épocas... antes e depois da mulher. Mas, São Paulo, a cidade da minha vida. Mayra, a mulher da minha vida.
Dos meus sonhos mais secretos, mais concretos, mais azuis... mais antigos.
São Paulo é magia. Mayra é mágica.
São Paulo é louca. Mayra, enlouquecedora.
São Paulo é cenário. Mayra, protagonista.

São Paulo... duas épocas... antes e depois de você, meu amor.
Antes? Cidade natal, querida por natureza.
Depois? Cidade em que quero morrer, em teus braços, em teus lábios, em teus beijos...

São Paulo, cidade fatal. Mayra, mulher real!!

Te amo tanto, São Paulo. Mas, Mayra, te amo mais. Muito mais. Te amo além e acima da cidade, mesmo que por causa dela.
Hoje? Amo a cidade porque ela contém a mulher que eu amo.
Amo a cidade porque nela vive a mulher da minha vida.
Amo a cidade porque meus sonhos todos têm lugar aí, onde você está... em teu cotidiano, em teus braços, em teus cabelos, meu amor. Em teu corpo, em teu abraço. Em teu beijo, longo e necessário.

Amo você, São Paulo. Cuida da minha menina.
Amo você, menina. Cuida do meu amor...!
Amo você, menina. Mulher. Linda.
Amo você, São Paulo, porque meu coração está aí, batendo no peito da minha menina: Mayra.

Amo você, Mayra... acima e além de todas as coisas, construções, confusões, solidões... Amo você com toda força que pulsa, que arrebenta, que vai e que vem, que move e desorienta... como São Paulo. Amo você com toda força que explode, impulsiona e vibra... como São Paulo.

Mas a amo mais que tudo isto. Amo você pelo que você é, pelo que você foi e pelo que carrega nestes olhos lindos, cuja falta me corta, como fosse uma lâmina, suavemente partindo meu coração...
Amo você como quem ama a última noite de sua própria existência. Lentamente... profundamente, loucamente... desesperadamente...
Um beijo, amor"

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Martha Medeiros

"Estava conversando com uma amiga, dia desses. Ela comentava sobre uma terceira pessoa, que eu não conhecia. Descreveu-a como sendo boa gente, esforçada, ótimo caráter. "Só tem um probleminha: não é habitada". Rimos. É uma expressão coloquial na França - habité - mas nunca tinha escutado por estas paragens e com este sentido. Lembrei-me de uma outra amiga que, de forma parecida, também costuma dizer "aquela ali tem gente em casa" quando se refere a pessoas que fazem diferença.


Uma pessoa pode ser altamente confiável, gentil, carinhosa, simpática, mas se não é habitada, rapidinho coloca os outros pra dormir. Uma pessoa habitada é uma pessoa possuída, não necessariamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe de ser má referência. Clarice Lispector certa vez escreveu uma carta a Fernando Sabino dizendo que faltava demônio em Berna, onde morava na ocasião. A Suíça, de fato, é um país de contos de fada onde tudo funciona, onde todos são belos, onde a vida parece uma pintura, um rótulo de chocolate. Mas falta uma ebulição que a salve do marasmo.

Retornando ao assunto: pessoas habitadas são aquelas possuídas, de fato, por si mesmas, em diversas versões. Os habitados estão preenchidos de indagações, angústias, incertezas, mas não são menos felizes por causa disso. Não transformam suas "inadequações" em doença, mas em força e curiosidade. Não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem. Além disso, mantêm com a solidão uma relação mais do que cordial.

Então são as criaturas mais incríveis do universo? Não necessariamente. Entre os habitados há de tudo, gente fenomenal e também assassinos, pervertidos e demais malucos que não merecem abrandamento de pena pelo fato de serem, em certos aspectos, bastante interessantes. Interessam, mas assustam. Interessam, mas causam dano. Eu não gostaria de repartir a mesa de um restaurante com Hannibal Lecter, "The Cannibal", ainda que eu não tenha dúvida de que o personagem imortalizado por Anthony Hopkins renderia um papo mais estimulante do que uma conversa com, sei lá, Britney Spears, que só tem gente em casa porque está grávida. Zzzzzzzzzzz.

Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres habitados e ao mesmo tempo inofensivos, cujo único mal que possam fazer é nos fascinar e nos manter acordados uma madrugada inteira. Ou a vida inteira, o que é melhor ainda."

(Martha Medeiros, publicado na REVISTA O GLOBO, domingo, 24 de julho)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Outra avenida

Eu estava lá de volta as origens... Noutra avenida que já me marcou tanto.
Onde tive todos os desejos realizados, onde o coração ficou partido com vontade de esquecer, de fugir, de morrer...
Eu estava lá... relembrar foi inevitável, cada detalhe, cada gesto, cada marca fincada no peito...
Dói porque houve história, houve beleza, verdade, paixão...
Dói porque foi importante, foi único, singular, impar, inesquecivel.
Dói porque a saudade é bandida e me deixou nua de cara no asfalto.
Assaltou minha vida, tirou minha alegria, meu sorriso ficou triste...
Dói principalmente porque foi finito.

Mas estou aqui, de volta a avenida da minha vida, pedindo a Deus que as coisas se aquietem dentro do peito e me reerguendo, me reconstruindo mais uma vez...
Eu vou até o chão e rasgo no asfalto, mas pego impulso rapidamente!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Esquadros

Eu ando pelo mundo, prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodovar, cores de Frida Kalo, cores
Passeio pelo escuro, eu presto muita atenção
No que o meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que tem fome
Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela, quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço...
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Adriana Calcanhoto
http://www.youtube.com/watch?v=EeNUsrw8qA8
Bem a minha cara essa música, bem a minha vida...