Cheguei a São Paulo aos 20 anos.
Entrei na faculdade, arrumei um trabalho numa corretora de seguros na Avenida Faria Lima e nos primeiros meses morei numa republica com 6 meninas na Rua Pires da Mota – Aclimação.
Eu gostava de lá, principalmente da Dona Natalina que era a velha dona do apartamento.
Acredito que eu tenha morado nesse lugar uns 6 meses, mas nos primeiros 2 meses tinha que dividir um quarto com mais 5 meninas e isso foi o mais difícil.
Com o tempo e muita habilidade, convenci a velha a me dar à sacada do apartamento como quarto, e a partir disso passei a ser mais feliz. O problema começou a ser minha família, que ficava péssima porque eu estava morando daquela forma.
Comecei então a procurar apartamento para comprar, fui a cada lugar que vocês não acreditariam se eu contasse, mas o que realmente gosto de contar é de quando cheguei ao lugar que me encantou.
Numa das Avenidas mais famosas e importantes do contexto Paulista.
O prédio em si era uma tradicional espelunca, mas a melhor localização de São Paulo.Um dos maiores e mais discretos redutos da excentricidade e decadência paulista.
Gays, transexuais, prostitutas, velhas, sub-celebridades e artistas que torraram seus últimos tostões para morar sob as asas da abandonada cobertura que, na época da ditadura, fora do casal Cacilda Becker e Walmor Chagas.
Eles chegaram a construir um pequeno teatro dentro do salão principal da cobertura, acredita?
Tudo abandonado… Como se o passado não valesse nada.
Caí de pára-quedas naquele prédio, pura obra do acaso: um anúncio no jornal, contato com o corretor que dizia minha mãe que parecia o Robert Redford, pura ilusão de ótica, o velho era feio demais.
No prédio nem interfone havia. Quem chegava à portaria, ou fazia o porteiro correr até o apartamento da pessoa ou subia deixando o RG de refém.
Com pouco tempo fiquei amiga do Zelador, ele conhecia deus e o mundo. Acabei descobrindo que ele era da mesma cidade que minha família, ficamos muito próximos, por onde íamos ele me apresentava as pessoas.
Espalhou a informação de que eu era do interior, como se fosse uma doce donzela a ser preservada. Mas não adiantou nada, pois quando vi, eu já estava no meio da malandragem do prédio... Bichas, sapas, travecos, putas, traficantes, artistas em fim de carreira, a amante de um grande assaltante de banco e um pouquinho da Elke Maravilha…enfim...
Eu era muito careta naquela época, ainda bem, mas os espertinhos me respeitavam... Ouvia um monte de histórias, era juíza de relacionamentos em crise no meio da madrugada, dava esconderijo para prostitutas escaparem de namorados ciumentos, chorava junto com a velharada e viajava com a malucada que zumbizava no jardim da entrada, a espera de amores que nunca mais voltariam.
Cada volta para casa pelos corredores era uma aventura, morria de medo de atravessar aquilo sozinha. Meus vizinhos, nem da pra contar, o mais santo era pedófilo, ainda bem que eu já tinha mais de 20 anos.
O mais impressionante é que eu gostava daquele lugar, era como se eu já o conhecesse.... Lembro-me da minha primeira entrada no apartamento, quando ainda morava a antiga proprietária... Eu me rendi ao lugar, me apaixonei naquele instante.Ainda existem milhares de histórias a serem contadas, pois esse lugar ainda respira experiência e hoje já inspira confiança.
Sabe aquelas pessoas feias que tem histórias para contar, tem experiência, carisma e se transformam em beldades na nossa concepção de beleza? Pois é, esse prédio é essa pessoa para mim.
Recordo-me que foi na adolescência a primeira vez que estive nesse prédio.
ResponderExcluirAcredito que isso tenha acontecido por volta de 1987. Realmente a excentricidade foi o que mais me chamou atenção naquela época.
Lembro-me que fui ao apartamento de um fotografo, pois queria aulas particulares de fotografia. Uma arte que me faz vibrar até hoje.E não há forma melhor de despir uma pessoa, do que através da fotografia.
Saudosa adolescência! Boas lembranças esse texto me trouxe.
Beijos,
A história do prédio mudou muito, hoje temos corredores com cara de flat, porteiros envergando seus ternos impecáveis solicitando identificação dos visitantes sob a mira de câmeras que não descansam nunca. Nossa arrecadação média gira em torno de R$ 2000.000,00/mês atraindo muita ganância e corrupção. Mesmo assim conseguimos evoluir, um apartamento de dois dormitórios giram em torno de R$ 4000.000,00. A cobertura dos Becker ainda está abandonada, porém isolada. Estamos fazendo muitos projetos para cobertura, contra a vontade da organização que engessa a administração. Quem não acreditou, dançou. Veja meu blog sobre o prédio http://edbaronesadearary.blogspot.com/ Ainda em construção.
ResponderExcluirGostei da sua história, comprei aqui logo após a interdição e tenho lutado muito para não deixar a corrupção falir o prédio novamente. Também publico um jornalzinho no prédio, logo estarão todos exemplares no blog.
Um abraço. jurandir_r@yahoo.com.
Ola Jurandir,
ResponderExcluirObrigada pela visita.
Vou entrar no seu blog. Ainda estou no predio e amo aquele lugar.
Um beijo
moro aqui a menos de 1 ano, posso dizer que estou amando,tudo isto que dezem é passado ,agora estamos no presente e tudo esta indo muito bem,parabens a vc que lutarao e estao lutando para melhoria ,tem tudo para ser o melhor conte comigo morador a menos de um ano
ResponderExcluirMoro no prédio a 8 meses, gosto do lugar, mas confesso que sinto uma energia muito pesada no mesmo. Ainda mais que na madrugada do dia 21 ou 22,um rapaz caiu do 14 andar, não sei se foi suicídio ou acidente. muitos moradores do baronesa ouviu um barulhão, inclusive eu, depois de 30 minutos fui olhar na janela, lá estva um homem estatelado no chão, ja em óbito. Até agora estou passada. Mas são coisas que acontecem. Mas que o prédio tem um certa energia ruim, isso tem!
ResponderExcluiro problema no predio e a crrupção uma obra q/em qualquer outro predio custa 20.000,00 ai custa 60.00, pois tem a fmosa propina, conheço a historia, o lugr é marvilhoso, temos uns boncos impanados na administração q/não fazem nada e ganham salarios de maraja
ResponderExcluirMoro no prédio há 2 anos já e concordo com a pessoa anônima que falou da energia pesada. Estou lendo um livro, emprestado pelo Jurandir, que comentou acima, que se chama Baronesa de Arary - Nobres, pobres, artistas, oportunistas..." de José Venâncio de Resende. Conta toda a história, desde os tempos da própria Baronesa. Muita coisa ficou aqui, muita energia dos temos da invasão, mas mesmo assim, como você disse, eu sou encantada pelo lugar, algo me prende a esse prédio. Mesmo com a administração corrupta e nojenta, pretendo ficar aqui por muitos anos, talvez comprar uma unidade e deixar de ser locatária, gosto de fazer parte dessa história.
ResponderExcluirGostei do seu post, muito interessante.
Beijos
se não fosse a corrupção q/impera cada vez mais, estariamos com um edifio lindo digno da av. paulista, voces acham um advogado prestou
ResponderExcluirum serviço em 2001, e so foi pago agora em 2012, bom advogado não?
vamos todos contratar este anjo para nos defender