Estou lendo um livro, muito interessante, chamado: "Pedagogia do Amor", do Gabriel Chalita.
Ele faz uma analogia muito interessante sobre o amor, com personagens marcantes da literatura.
Cheguei num momento do livro em que o Chalita descreve um dia de domingo de uma forma única.
Ele diz que no passado quando não tinhamos acesso a um mundo de coisas, que hoje, consideramos essenciais. Não tinhamos a possibilidade de, por exemplo, alguns remédios e vacinas que prolongam a vida humana com qualidade. Não tinhamos a possibilidade de abastecer nossos armários sem sair de casa. Não tinhamos, também, as facilidades dos meios de comunicação.... Em contrapartida, nossos antepassados desfrutavam de cumplicidade do velho boticário, figura simpática que conhecia toda a clientela pelo nome e tinha sempre à mão um remédio, um umguento, um chá para qualquer mal-estar. Tinham, ainda, a confiança do dono do armazém e podiam pagar as despesas no fim do mês...
Ai ele diz que nossos antepassados desfrutaram de domingos poéticos... Domingos sagrados, em que a comunidade se encontrava nas igrejas, nas praças, nos parques de diversão, nos festejos tradicionais de cada região.
Esse "sentimento de domingo" me dá saudade dos tempos em que o "ser" valia mais do que o "ter", e isso fica muito bem colocado na poesia de Adélia Prado, no poema: "Para comer depois"
"Na minha cidade, nos domingos a tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desata, o aro enfeitado de laranjas:
"Eh bobagem!"
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo."
Essa poesia me lembrou que hoje é aniversário de minha avó que mora em uma cidadezinha que se encaixa perfeitamente a essa poesia da Adélia Prado e já que não pude estar presente no aniversário, dedico esse poema a ela. São 95 anos de muita história para contar.
Parabéns minha querida vó!
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