Na avenida da minha vida, componho e compartilho a ferro e flores de todas as emoções, inquietações e explosões de uma jornada profunda, intensa e fascinante.
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Retorno

"Estou de volta para o meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade."
Depois de um longo e prazeroso verão, estou de volta.
Essas férias estão muito boas, mas estou com muitas saudades dos meus companheiros de blog.
E para começar as postagens desse ano, gostaria de postar novamente um texto muito querido que já escrevi há muito tempo atrás:

TERNURA
Mataram a poesia no colégio, quer dizer, eu aprendi a dá-la por morta nesta época, de tanto que sofria toda vez que tinha de ler para a classe.
Da professora que me fez não ler poesia por muito tempo, sequer lembro o nome. Ela não me deixou boas recordações para eu revirar no hoje. Mas lembro do sofrimento que era falar um soneto, assim, sem as palavras saírem direito e ainda sob o olhar aborrecido dos outros alunos.
A mesma professora rabiscou de vermelho minhas redações, sangrando o azul da minha vontade de pôr em palavras os sentimentos que me atropelavam. E ela disse pra eu cortar aqui e ali, porque redação tem de ser assim, curta e grossa. E eu achei que ela estava era cansada, já que anular é mais fácil que tentar compreender. Pensei que, talvez, ela estivesse cansada de corrigir redações de tantos alunos. Mas ao mesmo tempo eu me perguntava se a condição de um momento justificava o não-aconselhamento, a opção pelo homicídio de uma inspiração a ser aproveitada, não diluída em padrões.
Eu já era quase adulta, mas foi no colégio que um poema meu ganhou um concurso pela primeira vez. Eu escrevi um poema no meu nome e outro no nome de uma amiga. O poema da minha amiga ganhou o prêmio. E também foi nessa época — quando ia direto do trabalho para a escola e passava quase uma hora no pátio, lendo ou escrevendo — que me dei conta de que a minha paixão pela poesia, até então somente por escrever, não deveria ser esquartejada pela má vontade de uma pessoa dita mais sábia e experiente do que os seus alunos. E foi assim que aprendi a primeira lição de como não se deixar levar pela opção de vida dos outros. Nem sempre todos nós queremos sombra e água fresca. Alguns gostam da pele curtida pelo sol ou pelo vento frio do inverno. E eu esqueci os rabiscos em vermelho no meu universo azul.
O primeiro poema pelo qual me apaixonei foi o "Ternura" do Vinícius de Moraes, "Eu te peço perdão por te amar de repente/ Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos/ Das horas que passei à sombra de teus gestos/ Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos/ Da noite que vivi acalentado/ Pela graça indizível dos seus passos eternamente fugindo/ Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente/ E posso dizer que o grande afeto que te deixo/ Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas/ Nem o mistério das palavras dos véus da alma... / É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias / E só te pede que te repouses quieta, muito quieta/ E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora."
Um belo poema para um começo.